O mês de março foi marcado por debates internacionais entre Brasil, Espanha e França, em relação à continuidade e avanços no Acordo Mercosul-União Europeia. Ao contrário do presidente espanhol Pedro Sánchez, que manifestou durante sua visita oficial ao Brasil, no início do mês, a intenção de avançar e ampliar as relações políticas, comerciais e de investimentos, inclusive nas negociações do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, o presidente da França, Emmanuel Macron, que também visitou o país no final de março, propôs uma revisão e atualização do referido acordo.
Os principais temas e desdobramentos neste sentido ocorreram durante o Fórum Econômico Brasil-França, nos dias 27 e 28, na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), contando com a presença principal do presidente Emmanuel Macron, o qual discorreu sobre as relações bilaterais com o Brasil e, principalmente, defendeu a possibilidade de revisão do Acordo Mercosul-União Europeia.
Durante seu discurso na Fiesp, o presidente francês fez críticas ao tratado e propôs sua revisão, alegando que o acordo não poderia ser defendido, uma vez que foi negociado há 20 anos. Segundo ele, a diplomacia e os negócios não podem se basear em regras antigas. Nesse sentido, pregou a criação de um novo acordo, “um acordo comercial responsável, que tenha o desenvolvimento, a biodiversidade e o clima no centro, com cláusulas de reciprocidade e maior exigência de todas as partes”.
Por sua vez, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes, defendeu que um acordo entre Mercosul e União Europeia seria muito benéfico para ambas as regiões, especialmente para a França. Ele considerou ainda que a visita do presidente francês Emmanuel Macron ao Brasil, com paradas em diferentes regiões, demonstra o interesse mútuo em fortalecer as relações comerciais e políticas.
Em seguida, a direção da Confederação Nacional da Indústria (CNI) rebateu as críticas do presidente francês Emmanuel Macron ao acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. Em nota pública, o presidente da entidade, Ricardo Alban, defendeu que, embora o processo tenha 20 anos, reiniciá-lo demandaria tempo adicional, resultando em novos ciclos de ajuste.
Alban observou ainda que o acordo passou por atualizações nos últimos anos, conforme era negociado, ressaltando que, como qualquer outro acordo comercial, este não é estático e permite atualizações sempre que necessário.
Durante o Fórum Econômico, o diretor-presidente da Engie e presidente do Conselho de Empresas França-Brasil, do Medef Internacional, Jean-Pierre Clamadieu, afirmou que a França e o Brasil estão na vanguarda da transição energética, devido à matriz energética particularmente favorável dos dois países. Ele destacou que os dois países podem aprender juntos, enfatizando que o caminho ainda é complexo e com muitas ambições.
Vale lembrar que o Mercosul, bloco comercial que reúne o Brasil e mais países da América do Sul, negocia há 20 anos um acordo com a União Europeia para facilitar a venda de produtos entre os dois lados. O acordo esteve próximo de ser fechado em 2023, mas a França é uma das principais resistências. Nos últimos meses, produtores rurais de pelo menos sete países (Alemanha, Bélgica, França, Grécia, Itália, Romênia e Polônia) fizeram protestos contra acordos de livre comércio com países fora do bloco. Em fevereiro, o Ministério das Relações Exteriores do Paraguai (atual presidente do Mercosul) disse que as negociações estão suspensas até as eleições para o Parlamento Europeu, que ocorrem em junho.
O presidente da França, Emmanuel Macron, visitou o Brasil em março para uma visita de três dias. Ao todo, foram assinados 21 termos de cooperação entre os países. O principal item da lista é um Novo Plano de Ação da Parceria Estratégica Brasil-França, que inclui 23 tópicos em diversas áreas, como energia, agricultura, inteligência artificial, defesa, reforma da governança global e área da Justiça. A conclusão é que a visita do presidente francês, os debates em torno do Mercosul-União Europeia e a assinatura dos acordos foram benéficos para ambos os países nessas relações bilaterais, que também devem beneficiar diversos estados brasileiros. Por esse motivo, o parlamento interamericano, via Unipa, deve continuar acompanhando e fiscalizando.
* Abril 2024 Foto: Presidente da França, Emmanuel Macron, assinou acordos bilaterais com o Brasil e propôs revisão do acordo Mercosul-UE. (Foto: Paulo Pinto, Agência Brasil).