Após o governo argentino limitar as exportações do país em 50% veio o resultado: queda de quase 30% para o volume de carne bovina vendida por esse país no mês de julho. A consequência disso é uma redução na apuração do faturamento, com as exportações, da ordem de mais de US$ 1 bilhão. Produtores argentinos estão se sentindo bastante prejudicados e isso, consequentemente, abre espaço para outros mercados preencherem esta cota.
Para ter uma ideia, esses 30% de queda representam 35 milhões de toneladas de carne que são, aproximadamente, 20% do que o Brasil tem exportado mensalmente para a China. Ou seja, é um volume bastante considerável e abre espaço para outros concorrentes no Mercosul aumentarem suas exportações e ampliarem ainda mais seus horizontes internacionais.
Abre espaço para o Paraguai, principalmente, e para o Brasil, porque esses mercados estão com preços mais competitivos internacionalmente. Vale registrar que o Uruguai, hoje, é um país um pouco mais caro nesse sentido. Quando se compara o preço da arroba do boi, em dólar, nos países do Mercosul, essa é ordem de boi mais caro para o mais barato: Uruguai, Brasil, Paraguai e por fim Argentina, que viu essa queda de preços.
No mercado doméstico argentino, o preço da carne também veio para baixo, ou seja, em linha com a tentativa do governo de conter os preços para segurar o cenário inflacionário bastante agressivo que se desenhou naquele país. Vem em linha, também, com a queda do poder de compra. A crise econômica que está se vivendo nesse país também reforça.
Infelizmente, em um segundo momento, o que a gente costuma ver — e a história nos conta sobre esse tipo de medida —, é que isso desincentiva o investimento na atividade, faz cair a produção e, logo em seguida, vem uma nova onda de alta mesmo com a contenção dos volumes exportados. Então, muito possivelmente, se esse movimento continuar e a medida do governo persistir, é isso que devemos ver no futuro.
As perdas econômicas que já aconteceram são irreversíveis e estimamos que as medidas devem continuar valendo até, pelo menos, as eleições argentinas, já que é uma medida vista como populista.
Lygia Pimentel, CEO da AgriFatto, é médica veterinária, economista e consultora para o mercado de commodities. Desde 2007 atua no setor do agronegócio ocupando cargos como analista de mercado na Scot Consultoria, gerente de operação de commodities na XP Investimentos e chefe de análise de mercado de gado de corte na INTL FCStone.