Desde o último final de semana, vêm repercutindo nos meios políticos e diplomáticos do Brasil e da América Latina as declarações do presidente da Argentina, Javier Milei, que voltou a ameaçar a saída do Mercosul. Ele afirmou ainda que o bloco econômico, que reúne cinco países sul-americanos, “enriqueceu apenas os brasileiros”.
O polêmico discurso aconteceu em 1º de março, na abertura do Congresso argentino de 2025, quando Milei mencionou a possibilidade de deixar o Mercosul para firmar um acordo comercial com os Estados Unidos. O presidente americano Donald Trump é um aliado do líder argentino.
“O primeiro passo nesta trilha é a oportunidade histórica que temos de entrar em um acordo comercial com os EUA. Para aproveitar essa oportunidade, é necessário estar disposto a flexibilizar ou, se for o caso, sair do Mercosul, que, desde a sua criação, só conseguiu enriquecer os grandes industriais brasileiros às custas do empobrecimento dos argentinos”, declarou Milei.
Milei já havia aventado essa possibilidade em janeiro, caso fosse necessário para concluir um acordo de livre comércio com os Estados Unidos.
O presidente argentino também afirmou ao Congresso que sua “motosserra”, símbolo de seu plano de desmonte do Estado, representa “uma mudança de época” para o país. Além disso, disse que Elon Musk, conselheiro de Trump e chefe do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês), inspirou-se em sua abordagem para reduzir o tamanho do governo dos EUA.
“Hoje, os olhos do mundo se voltam para a Argentina depois de muito tempo e, em alguns casos, até tomam nota do trabalho que fizemos para aplicá-lo em seus próprios países, como está fazendo Elon Musk à frente da pasta de desregulamentação dos EUA. Não é pouca coisa o que Elon está fazendo com a motosserra. Desta vez, em vez de ir na contramão do mundo, a Argentina está na vanguarda”, afirmou Milei.
A política da “motosserra” de Milei, que tem como foco a desregulamentação do Estado argentino e que ele chama de “ambiciosa política econômica”, reduziu a inflação no país, mas aumentou a pobreza.
Em seu discurso, Milei também anunciou que a Argentina está perto de fechar um novo acordo com o FMI, que incluiria um empréstimo do Fundo Monetário Internacional para “eliminar os controles cambiais ainda este ano”. Ele esclareceu que o pagamento da dívida virá “de um maior ajuste fiscal por meio da redução dos gastos públicos”.
REAÇÃO NO BRASIL
Nos bastidores do Itamaraty, há avaliações de que Javier Milei busca desviar o foco do noticiário sobre o escândalo das criptomoedas ao mencionar, mais uma vez, a possibilidade de saída do Mercosul. O Ministério das Relações Exteriores (MRE) não pretende responder oficialmente. Fontes do governo brasileiro avaliam que qualquer resposta apenas ajudaria Milei a desviar a atenção da crise envolvendo as criptomoedas.
(Em 06-03-25 – Com informações da CNN).
Foto: Presidente da Argentina, Javier Milei (AFP).