Pré-COP em Brasília sinaliza avanços e impasses rumo à COP 30

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Na semana passada , nos dias 13 e 14 de outubro, Brasília se transformou no epicentro das negociações climáticas que antecedem a COP30, reunindo ministros, diplomatas e representantes de mais de 60 países no Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB). A Pré-COP teve como principal objetivo preparar o terreno político e diplomático para as decisões que serão tomadas em Belém, em novembro — e, de certo modo, testar o pulso global diante de um planeta cada vez mais pressionado por eventos extremos, desigualdades e transições inacabadas.

Se o encontro não teve o brilho dos grandes anúncios, ele ofereceu algo talvez mais importante: clareza sobre as prioridades e os pontos de atrito que marcarão as negociações daqui em diante.
Houve avanços concretos e sinais de cooperação.A ministra Marina Silva resumiu o espírito do encontro ao afirmar que “o mundo precisa sair do discurso e entrar na implementação”. Essa ideia norteou boa parte dos debates e reforçou o que a presidência brasileira da COP30 vem tentando construir: uma agenda de ação baseada na execução efetiva dos compromissos já assumidos.
Entre os principais consensos e avanços registrados na Pré-COP estão:
• Compromisso pela adaptação climática: houve convergência sobre a urgência de fortalecer ações de adaptação — especialmente nos países em desenvolvimento — diante da intensificação dos desastres climáticos.

• Financiamento climático em pauta: delegações reforçaram a necessidade de ampliar o fluxo de recursos internacionais, públicos e privados, para ações de mitigação e adaptação. O tema continua sendo o principal divisor de águas entre nações ricas e pobres.

• Implementação do Acordo de Paris: o Brasil e outros países destacaram a importância de transformar as metas em resultados mensuráveis, priorizando transparência e governança.

• Saúde e clima lado a lado: pela primeira vez, a saúde foi tratada como um eixo central da agenda climática. Delegações e organizações defenderam que o tema não pode mais ser “nota de rodapé” nos compromissos internacionais.

• Participação dos povos tradicionais: o “Círculo dos Povos”, iniciativa liderada pela ministra Sonia Guajajara, foi apresentado como modelo pioneiro para garantir o protagonismo de comunidades indígenas, quilombolas e tradicionais nas discussões e decisões da COP30.

Além disso, o BNDES lançou durante o evento uma plataforma pública de acompanhamento do Fundo Clima, permitindo transparência sobre os projetos financiados. Uma medida simbólica, mas essencial para reconstruir a confiança na governança climática brasileira.

Pontos de tensão e desafios à frente: Nem tudo, porém, soou em tom de consenso. Houve preocupações claras e críticas contundentes, principalmente em relação à ausência de temas estruturais:
• Florestas em segundo plano: ambientalistas e organizações como o Greenpeace alertaram que, mesmo com a COP30 sendo sediada na Amazônia, o desmatamento não recebeu a ênfase esperada.

• Compromissos vagos: embora vários países tenham demonstrado disposição para cooperar, poucos apresentaram metas ou prazos concretos. As chamadas “declarações de intenção” continuam dominando o cenário.

• Descontinuidade de políticas: um levantamento apresentado durante o evento revelou que quase 300 iniciativas climáticas lançadas em COPS anteriores foram descontinuadas, o que reforça a fragilidade de parte dos compromissos internacionais.

• Financiamento insuficiente: o discurso global sobre o Fundo de Perdas e Danos ainda carece de um plano robusto de financiamento. O impasse sobre quem paga e quanto pagar permanece o grande nó político da agenda climática.

Apesar desses entraves, a presidência da COP30, liderada por Dan Ioschpe, avaliou o encontro como “positivo e preparatório”, destacando que os diálogos em Brasília consolidaram pré-consensos que devem facilitar a construção de um documento final mais equilibrado e inclusivo em Belém.
Uma prévia do que o mundo verá em Belém
A Pré-COP foi, acima de tudo, um termômetro. Indicou onde há vontade política e onde a resistência ainda predomina.
O Brasil, na presidência da COP30, reforçou o discurso de liderança multilateral, defendendo uma transição energética justa e inclusiva, e anunciando a meta de quadruplicar a produção de combustíveis sustentáveis até 2030 — um gesto simbólico de que o país quer chegar à COP com credenciais de protagonista.
Mas o verdadeiro teste virá em Belém, quando o entusiasmo retórico precisará se converter em planos, metas, prazos e recursos.
O recado das novas gerações:Entre os momentos mais marcantes do evento, crianças e adolescentes entregaram uma carta aberta aos líderes globais, com um apelo direto e comovente: “Salvem o nosso mundo”.

O gesto, mais do que simbólico, lembrou que o debate climático não é apenas diplomático ou econômico — é também geracional e existencial. As vozes jovens presentes na Pré-COP reforçaram a urgência de transformar promessas em ações concretas, com justiça social e responsabilidade compartilhada.
Reflexão final: A Pré-COP em Brasília pode não ter resolvido os impasses globais, mas trouxe um sinal encorajador: há diálogo, há vontade e há pressão crescente da sociedade civil por resultados reais.
Como bem sintetizou Marina Silva, “não existe um planeta B, e nem um tempo B”. A contagem regressiva para Belém já começou — e o mundo espera que a COP30 seja o momento em que o discurso finalmente encontre a ação.
• Comunicação – Em 20-10-25 – Com informações de Neo Mondo- Estadão).

• Foto :: Rafa Neddermeyer/COP30 – Divulgação.

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