Governo linha dura de Trump pode ter reflexos na conservação da Amazonia

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A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de desativar a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) tem repercutido no Brasil e entre entidades ecológicas globais como um golpe significativo para os esforços de conservação da Amazônia. A medida coloca em risco projetos ambientais e sociais financiados pela agência, especialmente aqueles voltados à preservação da floresta e ao fortalecimento das comunidades indígenas.

Embora parte da ajuda externa possa ser retomada após a suspensão de 90 dias determinada pelo governo norte-americano, muitos beneficiários temem que seus projetos não tenham continuidade. Isso se deve ao fato de que grande parte das iniciativas apoiadas pela USAID está focada em áreas criticadas por Trump, como mudanças climáticas, biodiversidade e direitos de minorias e mulheres.

A maior iniciativa da agência no Brasil é a Parceria para a Conservação da Biodiversidade da Amazônia, segundo a agência Associated Press. O projeto busca preservar a floresta e melhorar as condições de vida dos povos indígenas e de outras comunidades tradicionais. Cerca de dois terços da maior floresta tropical do mundo estão em território brasileiro.

Uma das organizações brasileiras mais impactadas pelo fim do financiamento da USAID é o Conselho Indígena de Roraima, que atua em 35 áreas, incluindo o território da etnia Yanomami. O apoio da agência vinha permitindo ações para aprimorar a agricultura familiar, adaptar-se às mudanças climáticas e gerar renda para mulheres indígenas em uma região vulnerável à mineração ilegal e ao tráfico de drogas.

Edinho Macuxi, tuxaua (líder) do Conselho Indígena de Roraima, destacou à AP que a falta de recursos já obrigou a organização a demitir funcionários e cancelar atividades. “A parceria com a USAID existe há sete anos. Se a decisão for mantida, isso abalará nossa estrutura organizacional e projetos que são fundamentais para fortalecer a economia e a autonomia dos povos indígenas”, afirmou.

Mensagem a Trump

Macuxi também fez um apelo direto ao governo dos EUA: “Nossa mensagem ao presidente Trump é que ele deve manter os recursos não apenas para o Brasil, mas também para outros países. No Brasil, os povos indígenas que acessam esse financiamento são os que efetivamente mantêm a maior parte da floresta de pé, garantindo a vida não só para os brasileiros, mas para o mundo.”

Além disso, a reportagem da Associated Press destaca que a USAID teve um papel essencial em iniciativas de uso sustentável dos recursos amazônicos. Um dos projetos de maior sucesso foi a pesca manejada do pirarucu, peixe gigante nativo da região. Os fundos da agência permitiram a construção de um frigorífico para processar a pesca dentro dos limites legais, contribuindo para a recuperação da espécie e gerando renda para comunidades indígenas e ribeirinhas.

Em 2024, a USAID destinou US$ 22,6 milhões ao Brasil, sendo que mais da metade desse montante — cerca de US$ 14 milhões — foi voltado à proteção ambiental, com prioridade para a Amazônia. A floresta armazena quantidades cruciais de carbono, desempenhando um papel essencial na regulação climática global.

Com o encerramento das operações da USAID no Brasil, o futuro de diversas iniciativas ambientais e sociais fica incerto, deixando comunidades locais em situação de vulnerabilidade e ameaçando um dos ecossistemas mais importantes do planeta.

(Com informações da Associated Press)

📅 13/02/2025
📸 Foto: André Dib – Divulgação

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